Saúde mental infanto-juvenil: uma conversa de adultos

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O Setembro Amarelo chegou ao fim, mas o debate sobre saúde mental deve continuar. Muito fala-se a respeito da saúde mental entre jovens adultos, afinal, o suicídio é a segunda principal causa de morte da população entre 15 e 29 anos (fonte: OPAS), e um a cada quatro pessoas entre 18 e 24 anos considerou tirar a própria vida dentro de um período de 30 dias, de acordo com uma pesquisa realizada em 2020 nos Estados Unidos (fonte: USDHHS).

Neste cenário, o debate acerca da saúde mental infanto-juvenil muitas vezes fica em segundo plano e não chama muito a nossa atenção, pois comumente associamos a infância e a adolescência a períodos gostosos e despreocupados da vida. Porém, devemos nos manter alertas aos dados sobre saúde mental infantil, pois estudos indicam que desde o início da pandemia, uma a cada quatro crianças e adolescentes brasileiros tem apresentado algum tipo de transtorno mental que necessita intervenção clínica (fonte: Câmara Legislativa).

A origem destes transtornos pode variar de acordo com cada caso: bullying, excesso de tempo despendido em redes sociais e tecnologia, traumas como abuso físico, psicológico e/ou sexual, negligência afetiva e pressão do núcleo familiar são algumas das principais situações responsáveis por desencadear transtornos como depressão, ansiedade, TDAH e distúrbios alimentares em crianças e adolescentes.

É muito importante que a comunidade que envolve a criança se atente aos cuidados com sua saúde mental, pois é principalmente durante a infância e a adolescência que desenvolvem-se as estruturas mentais e as conexões cerebrais. Por isso, é importante que saibamos discernir quais são as frustrações normais da criança – e é muito importante que elas aprendam a lidar com elas para que desenvolvam inteligência emocional – e quais são os primeiros sintomas dos transtornos mentais.

Como as crianças geralmente não possuem desenvoltura emocional suficiente para entender e expressar suas emoções negativas, muitas vezes os sintomas se apresentam através de comportamentos e não de palavras. De maneira geral, alguns indicativos de que a criança está ultrapassando por dificuldades que merecem a nossa atenção são: crises de choro, isolamento, desânimo, quietude, desrespeito com os pais, crise agudas de medo, regressão de comportamento – a criança age como se fosse mais nova – e, especialmente no caso dos adolescentes, sinais de automutilação.

Mas estes não são necessariamente os únicos sintomas. No caso de distúrbios alimentares, por exemplo, devemos ficar atentos quando principalmente os adolescentes e pré-adolescentes começam a recusar refeições, provocar o
próprio vômito, demonstrar vergonha de seus próprios corpos e a consumir conteúdos voltados à beleza e à exaltação de corpos de maneira excessiva.

Já no caso da ansiedade e TDAH, devemos ter atenção dupla: é de fato preocupante que muitas crianças estão desenvolvendo com mais facilidade estes transtornos, muito em razão do contato precoce com a tecnologia em excesso e dos reflexos do isolamento na pandemia; contudo, são cada vez mais comuns os relatos de pais que tiveram seus filhos diagnosticados e medicados de forma indevida. Portanto, recomenda-se que, nestes casos, os pais levem os filhos em mais de um profissional e, se possível, de especialidades diferentes, como um neuropediatra e um psicoterapeuta infantil.

Agora, é importante falarmos sobre vocês: os adultos da casa. Para evitar que transtornos se desenvolvam, é importante que os pais participem de forma ativa da vida dos filhos, acompanhando de perto sua evolução escolar, perguntando sobre seu desempenho aos professores, estimulando e participando de brincadeiras sadias e criando um ambiente de afeto e confiança dentro de casa.

Se constatarem a mudança de comportamento preocupante na criança, o principal passo para o tratamento de transtornos mentais é, além de identificá-lo em casa, buscar ajuda profissional para diagnosticá-lo e tratá-lo. Pais e mães podem ter dificuldade em aceitar a severidade da condição dos filhos e comumente preferem achar que trata-se de uma “fase” e que vai passar naturalmente. Porém, em caso de suspeita, é muito importante buscar a opinião
de um psicoterapeuta, pois o diagnóstico de um quadro de depressão ou ansiedade, por exemplo, quando diagnosticado ainda em estágios iniciais, pode ser muito mais simples de tratar do que um quadro mais avançado.

É também muito importante que a família ao redor da criança não tenha vergonha de reconhecer seu transtorno e apoiá-la em todo o tempo. Infelizmente, problemas relacionados à saúde mental ainda são cercados de preconceitos e, por isso, é muito importante que a criança se sinta acolhida pela família para que consiga se expor e evoluir sem medo de ser julgada ou silenciada.

Se a infância e a adolescência nos moldam para o resto da vida, é nossa responsabilidade fazer o máximo para que nossos pequenos vivam suas experiências com saúde, amor e compreensão e, assim, continuem sendo esses lindos símbolos de leveza e alegria.